Crônica
Perdoe-me,
poeta, do “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena,” Fernando Pessoa.
Ensinei minha alma não se tornar pequena,
e, acredito que, outras, se abraçaram na mesma comunhão, sonhadoramente, comigo,
neste mundo controverso e conturbado.
Caóticas são nossas incertezas, por
que será? Por que nos decepcionamos na busca de sentidos para resolver nossas
indagações e crenças?
Oscar Wilde afirma: “Viver é a coisa
mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”. Será que esse é o
medo? Apenas existir?
E viver, quantos conseguem realmente?
Perco-me na angústia quando vejo as
almas confabulando para a venda dos bens sagrados – os valores: o sonho, a dignidade,
a verdade, a cidadania, a família, a educação, o amor.
Nesses tempos tumultuados e de corrupção,
despudoramento, malandragens, falcatruas, e tantos eteceteras, não se sabe mais
se é a questão do “Ser ou não Ser, eis a questão”?(original em inglês: To be or not to be, that's the
question). Peça: (A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca, de William
Shakespeare). http://pt.wikipedia.org.
Abraço-me a Shakespeare num choro silencioso. Quero decifrar essa questão e não
consigo.
O que sei é pouco. E esse pouco é muito porque sou capaz de
enxergar a morte dos ideais que nos assoberba. E nela vejo muitas vezes os sonhos de tantas
pessoas mergulharem nas profundezas dos seres insanos, incapazes de destronar
indubitavelmente os males e a gravidade que lhes ferra os sentidos diariamente.
Que pena! Será que nada mais vale à
pena? Devemos nos submeter as asperezas daqueles privilegiados que extorquem a
liberdade e produzem os delinquentes?
Recuso-me a acreditar que isto seja
verdade em face da beleza que ainda mora no meu coração, nas crenças e
aprendizagens, que sempre estiveram comigo. Luto com todas as fibras que
arrebatam o mais profundo da minh’alma, do meu “Eu”, da minha solidão, que me
deixa, às vezes, alheia, e, não compreendida porque preciso entender o que não
quero para mim e o ambiente de aprendizagem em que estou inserida.
Mesmo assim, a escola é minha casa de
desafio. E acredito que venceremos o
descrédito, a deseducação, o descaso, a incompetência que nos são atribuídas, com
professores competentes que buscam na leitura e pesquisa soluções para resolver
as dificuldades de aprendizagem e ambientação escolar – planejando as aulas,
discutindo ações e aprendizagens com alunos e colegas de forma interdisciplinar,
interagindo de forma positiva. E que tenham, além de conhecimentos, o senso de
amor e compreensão para as situações apresentadas diariamente na sala de aula.
Além disso, é necessário suplantar a
postura que reforça a lógica que nos transforma em mártires desvalidos e sofredores
em vista das circunstâncias: sociais, filosóficas, financeiras, etc.
Compreendem-se as dificuldades de
muitos para ensinar para “um mundo melhor”, diante da perversão do que nos
apresentam como suposta causa para ser defendida: ensinar que “Pensar dá muito
trabalho”. “Estudar, mais ainda” “Aprender sobre a realidade exige esforço e
tempo, coisas mais raras no mundo moderno.” Rodrigo Constantino. Esquerda
caviar. p. 49.
E, assim quando miro nos olhos dos
adolescentes e dos jovens(rebeldes ou não) que olham para mim, ou, até daqueles
que permanecem de olhos cabisbaixos para receber elogios, ou, quiçá, a
reprimenda – penso que gostaria de ser muito maluca a ponto de gritar algumas
verdades(não, apenas, para eles). Contudo, é comum as pessoas fugirem de suas
responsabilidades porque a realidade é tão difusa que não é possível pagar o
preço. Mas isto me custa horas de sono e de estudos para entender a sociedade e
o país que vivemos onde a alienação é constante em nome da democracia. Nela os
alunos estão inseridos com seu olhar inconformista causando polêmica e debate
em busca da soberania que lhes foi prometida. Outros, na frivolidade e arrogância, divertem-se na banalidade e pouco caso,
sentindo-se menos responsáveis por seus próprios atos perante toda e qualquer
regra que venha preservar os bons costumes e valores apregoados na sociedade
das minorias. O importante é se sentir diferente. Embora poucos saibam o que
isto significa.
Há pouco espaço para a geração ”nem isto, nem aquilo” livrar-se do
esnobismo e colocar sua arrogância muitas vezes acuada, evitando o serviço da
carnificina, dos cárceres, das acusações, do descrédito, da falta de amor. Existe
pouco espaço para a escola compreender tal geração.
Enfim, pretendo nunca esquecer “dos homens de
carne e osso” – os alunos com os quais convivo diariamente, principalmente dos
mais desvalidos. Que o mundo é um lugar cada vez mais complexo e que a escola
ainda vale a pena, apesar de todos os problemas vivenciados diariamente. Caso contrário, não me teria tornado
professora há 47 anos. Ademais estou sempre disposta a aprender e mudar minha
forma de ver o mundo.