Crônica
Profª Marina Niceia Cunha
Professora e Pedagoga
Perdoe-me, poeta, do “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena,” Fernando
Pessoa.
Ensinei minha alma não se tornar pequena, e, acredito que, outras, se abraçaram
a mim na mesma comunhão, sonhadoramente, nesse mundo controverso e conturbado.
Caóticas são nossas incertezas, por que será? Por que nos decepcionamos na
busca de sentidos para resolver nossas indagações e crenças?
Oscar
Wilde afirma: “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas
existe”. Será que esse é o medo? Apenas existir?
E
viver, quantos conseguem - realmente?
Perco-me
na angústia quando vejo as almas confabulando para a venda dos bens sagrados –
os valores: o sonho, a dignidade, a verdade, a cidadania, a família, a
educação, o amor.
Nesses
tempos tumultuados e de corrupção, despudoramento, malandragens, falcatruas, e
tantos eteceteras, não se sabe mais se é a questão do “Ser ou não Ser, eis a
questão”?(original em inglês: To be or not to be,
that's the question), da peça teatral (A tragédia de Hamlet, príncipe
da Dinamarca, de William Shakespeare). Shakespeare escreveu magistralmente
sobre o poder e tragédias advindas das circunstâncias, sejamos ou não da
realeza corrupta.
Certamente
o que sei é pouco. E esse pouco é muito porque sou capaz de enxergar a
morte dos ideais - tragédia que nos assoberba dia a dia. E nela vejo
muitas vezes os sonhos de tantas pessoas mergulharem nas profundezas dos seres insanos,
incapazes de destronar indubitavelmente os males e a gravidade que lhes ferra
os sentidos.
Que
pena! Será que nada mais vale a pena? Devemos nos submeter as asperezas
daqueles privilegiados que extorquem a liberdade e produzem os delinquentes?
Recuso-me
a acreditar que isto seja verdade em face da beleza que ainda mora no meu
coração, nas crenças e aprendizagens, que sempre estiveram comigo. Luto com
todas as fibras que arrebatam o mais profundo da minh’alma, do meu “Eu” - da
minha solidão interior - que me deixa, às vezes, alheia, porque preciso entender
o que não quero para mim no ambiente de aprendizagem em que estou inserida, e que
me leva a questionar: Nada mais vale a pena, na escola? A escola é uma farsa:
parece ser apenas um espaço de aprendizagem? De profissionais pouco
comprometidos? De alunos que não querem aprender?
Debato-me
contra tais constatações. Mas reconheço as dificuldades enfrentadas na escola. Ainda
assim, ela é minha casa de desafio. E acredito que venceremos o
descrédito, a deseducação, o descaso, a incompetência que nos são atribuídas,
com professores competentes que buscam na leitura e pesquisa soluções para
resolver as dificuldades de aprendizagem e ambientação escolar – planejando as
aulas, discutindo ações e aprendizagens com alunos e colegas das diferentes
disciplinas.
E que
tenham, além de conhecimentos de sua disciplina, metodologia e recursos
didáticos, o bom senso para resolver situações pontuais que se apresentam
diariamente na sala de aula. Acredito muito no trabalho de profissionais
comprometidos com a causa da educação e que ofereçam subsídios para que os
alunos realmente aprendam e se tornem pessoas autossuficientes em suas
aprendizagens.
Além
disso, creio ser necessário suplantar a postura profissional que reforça a
lógica que nos transforma em mártires desvalidos e sofredores em vista das
circunstâncias: sociais, filosóficas, financeiras, etc. E as dificuldades de
muitos para ensinar para “um mundo melhor”, diante da perversão do que nos
apresentam como suposta causa para ser defendida: “Pensar dá muito trabalho”.
“Estudar, mais ainda” “Aprender sobre a realidade exige esforço e tempo, coisas
mais raras no mundo moderno.” Rodrigo Constantino. Esquerda caviar, p. 49.
E,
assim, após tantas reflexões, quando miro nos olhos dos adolescentes e dos
jovens(rebeldes ou não) que olham para mim, ou, até daqueles que permanecem de
olhos cabisbaixos para receber elogios, ou, quiçá, a reprimenda – penso que
gostaria de ser muito maluca a ponto de gritar algumas verdades(não, apenas,
para eles). Contudo, é comum as pessoas fugirem de suas responsabilidades
porque a realidade é tão difusa que não é possível pagar o preço. Mas isto me
custa horas de sono e de estudos para entender a sociedade e o país em que
vivemos onde a alienação é constante em nome da democracia. Nela os alunos
estão inseridos com seu olhar inconformado ou de desdém causando descrédito, polêmica
e debate. Outros, na frivolidade e arrogância,
divertem-se na banalidade e pouco caso, sentindo-se menos responsáveis por seus
próprios atos perante toda e qualquer regra que venha preservar os bons
costumes e valores apregoados na sociedade das minorias. O importante é se
sentir diferente. Embora poucos saibam o que isto significa.
Há pouco espaço para a geração ”nem isto, nem aquilo” livrar-se do esnobismo e arrogância,
e colocar-se frente a frente à realidade que os cerca assumindo compromissos.
Falta
espaço para a escola compreender tal geração. Falta espaço principalmente para
a própria geração se entender.
Publicada no Jornal de Beltrão,domingo, p.6. 15.06.24.
Nenhum comentário:
Postar um comentário