Grupo de teatro-2007 - Profª Marina
Artigo
Profª Marina Niceia Cunha
Pedagoga
O título que uso para dar início a seguinte análise vem de
uma fala de determinada pessoa envolvida em setor que não é o de educação.
Tal profissional mostrava-se indignado sobre situações que
acontecem na escola em torno de (in)disciplina, (des)aprendizagem, (des)interesses,(des)motivação,
e, por conseguinte, limites a serem impostos, perdas de valores na família e na
sociedade.
Segundo ela, a culpa não é somente da escola. Há outros
motivos que levam a indisciplina e a
não-aprendizagem, porém, todos estão submetidas a “mea”culpa, a começar pelos
pais ou responsáveis dos alunos.
O que nos deixa bastante angustiados – eu me sinto assim, é
que ultimamente em educação, estamos na fase dos bandidos, e queremos com urgência
que nos apresentem “O mocinho”, atualmente, o “exterminador” que mate os
bandidos para que voltemos a ter calma no reino unido.
O “PROCURA-SE” culpados é fremente na educação brasileira.
E a partir do “Procura-se”, muitas vezes sem solução, resta apenas – o “caça as
bruxas”.
Hoje, a sociedade letrada exige “gabaritar” todas as provas
às quais legitimam o sucesso na escola, inclusive, na vida, senão somos
classificados um zero à esquerda. Quando alguém a “gabarita” - merece até foto
no jornal, elogios nas redes sociais, torna--se um exemplo para todos. Passa a
pertencer à classe dos deuses.
Na sala de aula os alunos notas dez são vistos pelos demais
com olhares de pouco caso, deboche, indiferença. Muitos sofrem bullyng por ter objetivos e
ótimos estudantes. E daí vem o
isolamento. A maioria dos professores está preocupada com esse grupo que são
prejudicados, na medida em que a grande parcela de alunos requer maior atenção
em vista das dificuldades de aprendizagem advindas de vários fatores: problemas
familiares, desinteresse pela escola, distorção de idade e série, baixo
autoestima, necessidade de trabalhar para ajudar a família, desmotivação, falta
de atenção e responsabilidade dos pais ou responsáveis, só para citar alguns.
Determinado dia veio à escola uma mãe entre muitas,
atualmente, preocupadíssima porque o filho sai de casa para vir à escola e é
claro nunca chega. E o Conselho Tutelar foi acionado. Tal mãe falava alto e em
bom tom: “ele não quer estudar. Já tem 15 anos. Disse pra ele que venha pra
escola porque preciso da “borsa família” (...).
Na verdade, a mãe
não demonstrou a menor preocupação com a aprendizagem do filho e o porquê dele
não vir à escola. O importante era que viesse para ter presenças e o subsídio
do Governo Federal pressupostamente garantido.
Essa situação embora
não se comente na sociedade, é séria nas escolas públicas. Muitas famílias
matriculam os filhos somente para receber o subsídio e a Lei que garante que a
criança deve ter acesso e permanência na escola, fica em segundo plano. Os mais
céticos afirmam que se não houvesse o subsídio, muitos pais pouco se
importariam se os filhos vêm à escola. Isto é comprovado. Os alunos faltam, faltam.
Tudo se faz para retornarem: vem dia sim, dia não. Desaparecem. Corta-se o
Bolsa Família, os pais correm à escola. Mas ninguém quer discutir essa questão.
Estou tocando num ponto melindroso. É capaz de alguém querer me processar. Ou
ter que me explicar no Ministério Público. Embora aqui tudo esteja explicado.
Como escrevi no
início deste texto, não se procuram culpados.
Acredito não ser momento para tal, mas de soluções, não apenas exigidas
da escola porque diariamente ela cumpre seu papel de ensinar para que tais
alunos consigam aprender e se situem na sociedade.
Entretanto, nem todos na escola, o objeto dessa análise, é nota
10,0. Mas todos têm suas possibilidades e as dificuldades de aprendizagem parte
delas são rótulos. Eu sempre tive dificuldade para aprender Matemática, odiava.
Conto o porquê no meu livro. Nem por isso fui má estudante de Matemática. Sofrivelmente
fui nota 10 algumas vezes quando me identifiquei com as Professoras Celia
Matias, no Ginásio e Alice Olinkieviski, na Escola Normal, minha ex-colega de
Ginásio.
Não me tornei uma
profissional relapsa pelas minhas dificuldades quando ensinei Matemática, aliás,
estudei e aprendi muito para ensinar meus alunos enquanto professora no ensino
primário.
Fui 10 em outras
disciplinas. Sofri preconceito, isolamento,
críticas: “a queridinha dos professores”. Mas brigava pelos meus 10 para exibir
orgulhosa no boletim e consequentemente no histórico escolar. Poucos me
importavam os colegas. Estudava e faziam além do que os professores
solicitavam. Eles sempre se surpreendiam comigo, inclusive na faculdade. Minha
tristeza ocorreu no exame de admissão quando aprovei em todas as disciplinas
com 10( prova oral e escrita), e minha
professora me disse que não podiam colocar um resultado assim. Baixaram uma nota
para 9,0. Logo em Língua Portuguesa que eu era dez.
Estamos sempre buscando motivos para a nota 10,0 já que a
sociedade nos avalia assim em diversas circunstâncias. E nesse quisito a escola
não pode falhar. É preciso ter uma boa média nas provas institucionalizadas
pelo MEC, por exemplo, para garantir a qualidade de ensino na educação: SAEB, Prova
Brasil, ENEM, ENADE.
Dessa forma, a média das escolas de ensino fundamental e
médio e universidades provam realmente que daí sairá profissionais competentes,
capazes de ter consciência moral, ética e profissional na profissão escolhida? Acredita-se
que sim.
A escola através das provas recebe uma média, e não quer
ser apontada como incompetente no ato de ensinar. Todavia, o professor e a
escola como um todo, diariamente recebem uma nota. Mas, às vezes, não se percebe
isso porque se reflete no dia a dia de outras formas nem sempre perceptível.
Entretanto, o que a escola ou instituição não pode medir é
a qualidade de seus profissionais ao deixarem o meio acadêmico. Quantos desses
continuarão a ser dez e farão valer a nota que sua escola recebeu na avaliação?
Espera-se que a escola “nota dez”, forme alunos nota dez que se transformem em
profissionais notas 10,0. Será essa a realidade de nosso País? De nosso Estado?
De nossos Municípios?
Há crises na educação escolar? Pode-se dizer que sim. Uns
afirmam que é devido às pedagogias adotadas nos últimos tempos. Os vai-e-vem de
concepções educacionais deixaram a escola desnorteada quanto à forma de
ensinar. Por outro lado, historicamente, não há como fugir dessas mudanças políticas,
sociais e filosóficas que permeiam o âmbito escolar.
Haverá sempre, portanto, indagações sobre “Pra onde vai a
Educação – dita “brasilera”? Isto se deve a questão de que a educação
brasileira busca caminhos numa sociedade povoada de controvérsias, acertos e
desacertos: MEC cria o Pacto pelo Ensino Médio. Polícia Militar faz prisões por
tráfico de bebês. Prazo para regularizar registro de domésticas é 7 de agosto.
Escolas são depredadas em vários municípios do Paraná. Alunos recebem Medalhas
na Olimpíada de Matemática. Mendigo é queimado em Curitiba. O sonho do hexa se
tornou um pesadelo... E cada um de nós é responsável pela nota 10 atribuída ou
não aos nossos alunos e profissionais de educação. Isto é pouco frente aos desafios que enfrentam
diariamente. O mais importante nessa discussão é educar os jovens para aprender
a lidar com seus problemas e buscar soluções seja na escola ou na vida.
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