quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Quincas Borba - Machado de Assis

Machado de Assis,afirmou "o livro anda devagar" e "o meu estilo" é "como os ébrios (bêbados), guinam à direita e à esquerda, andam e param...". E é mais ou menos assim que anda a narrativa de Quincas Borba.
O romance realista, de 1891, conta a vida de Rubião, um pacato professor de Barbacena, que se torna rico da noite para o dia ao receber uma herança deixada pelo filósofo Quincas Borba, criador de uma filosofia chamada Humanitismo. Rubião é nomeado herdeiro universal do filósofo sob a condição de cuidar de seu cachorro, Quincas Borba, com o mesmo nome do dono.
Rubião passa a viver no luxo da Corte do Rio de Janeiro, num ambiente a que não estava acostumado e que muito o deslumbra. Torna-se amigo de um casal, Cristiano Palha e Sofia. Ele se apaixona por Sofia. O amor era tão grande que Rubião foi obrigado a assumi-lo perante o objeto de desejo. Sofia recusa seu amor, mesmo tendo lhe dado esperanças tempos atrás, e conta o fato para Cristiano. Apesar de sua indignação, o capitalista continua a relacionar-se com Rubião, pois queria obter os restos da fortuna que ainda existia.
Palha faz uma proposta empolgante a Rubião: investir seu dinheiro na área de exportação. Empolgado com a esperança de multiplicar seu dinheiro, Rubião acaba caindo na armadilha do casal, que lhe dizem que outro negociador de "fora" os passou para trás e ficou com o dinheiro do investimento.
O amor de Sofia, não correspondido, aos poucos começa a despertar a loucura em Rubião. Já muito afetado pela doença, e de volta à sua cidade natal, relembra parte de uma explicação que lhe foi dada por Quincas Borba, e que habitou muito sua mente nos primeiros momentos quando soube que herdara toda fortuna do citado filósofo, diz: "Ao vencedor, as batatas".
Retoma-se, então, o Humanitismo. Que teoria é essa? É uma visão irônica das filosofias as quais pregam que a humanidade feita de uma só essência. A teoria dos Humanitas nasce em oposição ao Humanismo. Nesta, o homem é o centro de tudo e há uma total valorização dele. No Humanitismo aparece o pensamento pessimista e absurdo. O homem não aparece como um ser maravilhoso e perfeito, mas cheio de falsidades, em que um cão pode ser mais amigo e fiel do que o ser humano. A seguir, trechos do capítulo V ilustrando a relação de Quincas Borba, o filósofo, com seu cão Quincas Borba:
“— Desde que Humanitas, segundo a minha doutrina, é o princípio da vida e reside em toda parte, existe também no cão, e este pode ser assim receber um nome de gente, seja cristão ou muçulmano... O cão ouvindo, correu a cama. Quincas Borba, comovido, olhou para Quincas Borba:
— Meu pobre amigo! meu bom amigo! meu único amigo!”
O homem, para o Humanitismo, não significa nada; é falso, instável e fraco. Podemos notar isto nas personagens machadianas. Na luta pela sobrevivência quem vence é o mais forte, e não quem tem mais caráter. No trecho abaixo, do capítulo VI, a explicação da teoria:
“— Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas chegam apenas para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e irá à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.”
Depois da morte de Quincas Borba, Rubião sente-se dono das batatas. É um vencedor. As batatas, para ele, representavam riqueza, posição social. Não sabia ele que, na realidade, representavam, simplesmente, meras batatas. Não tinham valor algum. Seriam, apenas, o veículo de sua destruição. E ele que até então não entendera a exposição do filósofo, passa a compreender a fórmula:
— "Ao vencedor, as batatas!"
Tão simples! Tão claro! Olhou para as calças de brim surrado e notou que até há pouco foi, por assim dizer, um exterminado, um bolha; mas que ora não, era um vencedor. Não havia dúvida; as batatas fizeram-se para a tribo que elimina a outra para transpor a montanha e ir às batatas do outro lado. Justamente o seu caso. Ia descer de Barbacena para arrancar e comer as batatas da capital. Cumpria-lhe ser duro e implacável, era poderoso e forte. E levantando-se de golpe, alvoroçado, ergueu os braços exclamando:
— "Ao vencedor, as batatas!"(Cap. XVIII)
A loucura de Rubião o levou à morte e foi comparada à mesma que causou o falecimento de Quincas Borba. Louco e explorado por várias pessoas, principalmente Palha e Sofia, Rubião morre na miséria e assim se exemplifica a tese do humanitismo.

Clarice Pessoa, graduada em Letras, professora da rede pública.
http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=1440045097268725573&postID=2215643021066899155-acesso: 12/11/10

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