Artigo
O exame do ENEM será constituído por quatro provas, contendo 45 questões objetivas de múltipla escolha cada. Em de 2009, o Novo Enem passará a valorizar a interpretação.
A redação deverá ser feita em Língua Portuguesa e estruturada na forma de texto em prosa do tipo dissertativo-argumentativo, a partir de um tema de ordem social, científica, cultural ou política.
A prova de redação é sempre preocupante para os alunos. Não existem, entretanto, "dicas" nem roteiros para se fazer uma boa redação. O que é preciso é ler diversas modalidades de textos e escrever muito. E discutir com o professor as questões técnicas da produção.
Segundo o professor Irineu Ferraz(mestre em linguística, Colégio Águia, de Francisco Beltrão) - "é preciso o estudante entender o que é uma sequência progressiva de ideias, como manter a unidade temática ao longo do texto e a diferença entre parágrafo e um período.
Já para o Professor Adão Kroetz(coordenador pedagógico do mesmo Colégio, afirma que "as provas de exatas do ENEM devem focar menos cálculos e mais assuntos do cotidiano. O aluno deve olhar a ciência de modo diferente, encarando o conteúdo de modo a explorar os periféricos do enunciado do exercício que podem dar subsídios para a resolução. Deve encontrar saídas alternativas onde há cálculos prontos ou note o impedimento de aplicação de fórmulas, pois salienta que os fatores variáveis dão ponte ao resultado". Continua o professor, "As disciplinas exatas, seja Matemática, Física ou Química exigem, a princípio, um raciocínio bastante lógico e é tendência que o vestibulando deve ficar atento ao que está em voga, quais são os assuntos que envolvem essas disciplinas". E a onda do momento é o Ano Internacional da Astronomia e da Astronáutica, além do Ano Internacional da Tecnologia. Afirma ainda ter certeza de que nessa prova do ENEM não terá cálculos árduos, aqueles muito secos para fazer uso da aplicação de fórmulas e chegar a um resultado e que a mesma vai ser interpretativa.
Por conseguinte, a leitura de bons textos e das melhores redações das universidades, de colegas da própria sala de aula e professores da escola, é muito importante para refletir e analisar o próprio texto. Sem contar que o vestibulando deve estar atento ao estudo de questões que envolvam a leitura em âmbito das demais disciplinas.
Profª Marina
Melhores redações da UNICAMP 2008.
O tema da redação no ano passado foi "saúde". Os candidatos puderam optar por fazer uma dissertação, uma narração ou uma carta.
Redação 1
Bruno Costa Magalhães As doenças, assim como os danos causados pelo consumo de substâncias prejudiciais à saúde humana, têm relação, muitas vezes, com o comportamento do indivíduo. A prevenção desses males não pode negligenciar este aspecto: a atividade preventiva estatal pode ser interpretada pelo cidadão como uma interferência em seu modo de vida ou uma critica à sua própria personalidade. As tensões que aí surgem podem determinar o fracasso de uma importante campanha, na qual comumente se investem milhões de reais, Intolerância contra fumantes, através da restrição ao hábito em locais públicos fechados e exposição de imagens de doentes no fundo de maços de cigarro, apesar de bem-intencionadas e econômicas (basta lembrar que o SUS gasta cerca de R$ 200 milhões por ano em tratamento de câncer relacionado ao tabagismo) não escondem uma clara crítica ao modo de vida de quem fuma. Medidas preventivas antiobesidade estimulam mudanças na alimentação; agentes do Programa de Saúde da Família, em visita a residências mais pobres, muitas vezes fazem uma lista de novas tarefas para a família, entre elas uma série de hábitos de higienização do ambiente de convivência e do próprio corpo; campanhas de prevenção à Aids e às DSTs estimulam a diminuição do número de parceiros sexuais; enfim, há uma zona de permanente tensão quando o Estado entra em campo para cumprir seu dever de promoção da saúde pública. Essa tensão deve-se, em grande parte, a uma interpretação do direito à saúde, garantido no art. 196 da Constituicão Federal, como um direito coletivo à saúde. Com isso, o indivíduo pode – argumentam alguns – ter sua liberdade parcialmente cerceada, seus hábitos modificados por campanhas persuasivas se isso for necessário ao bem comum. Há de haver distinções. Se o comportamento individual alvo da ação preventiva do Estado inegavelmente afeta outros indivíduos que com ele convivem, permitindo a transmissão involuntária de uma doença, deve o poder público agir no sentido da conscientização preventiva, com campanhas aptas a alcançar esse fim. Contudo, se o comportamento individual apenas afeta pessoas conscientes dos seus atos, acreditamos que o Estado deve agir com mais cautela e preservar a individualidade. Exemplo recente e controverso do primeiro caso foi a distribuição, pelo governo federal, de cartilha destinada a adolescentes, com o objetivo de ensinar-lhes a utilização da camisinha – vista por setores da sociedade civil como um incentivo à sexualidade precoce e um reconhecimento, pelo Estado, de que esse despertar somente será maléfico se não houver uso de preservativo. Também o programa de redução de danos por uso de entorpecentes, consistente no seu uso monitorado, é alvo de críticas semelhantes: indução de comportamento. É necessário que o Estado atue com rigor através de campanhas preventivas, de tratamento e de fornecimento de medicamentos. A informação deve circular o mais isenta possível de opiniões parciais e indutivas, com a freqüência necessária e suficiente para permitir aos indivíduos a adoção das medidas pessoais que, plenamente conscientes, melhor se ajustarem à sua vida e à de sua família. Se for além disso, o Estado corre o risco – já concretizado no alvorecer do século passado, no Rio de Janeiro, de ver contra si uma multidão insatisfeita e sufocada. No desencontro de boas intenções, muito se perde; perde-se a oportunidade de alcançarem, ambos os lados, aquilo com que sonham: uma saúde sustentável e uma liberdade saudável.
Redação 2
Do inferno para o céu Jéssica Marcon Dalcol Noite serena; o céu, tomado pelas luzes da cidade, as invejava. Queria exibir suas estrelas, mas os pontinhos luminosos lá embaixo não as deixavam aparecer. Um jovem solitário, à janela de um apartamento, observava a lua. Queria pegá-la. Debruçou-se sobre o parapeito e esticou os braços: não a alcançava, Insistiu até sentir a mão deslizar em falso e, assustado pelo perigo da queda, virou as costas para a janela. Deparou-se com um cômodo escuro; apenas um abajur aceso ao centro, proporcionando sombras psicodélicas ao redor. Demônios com as mais diversas faces escondiam-se, corriam, dançavam, enquanto os móveis tomavam formas estranhas. Sentiu o braço arder: era a seringa, há pouco usada a fim de encontrar mais uma vez aquele mundo, ainda espetada nele. Seus olhos vagavam perdidos em meio àquelas ilusões quando, subitamente, se deparou com o retrato de sua avó – na verdade mãe, pois fora ela quem o criara desde a morte dos pais. Suas feições sorridentes derreteram, convertendo-se numa expressão macabra, de luto. E por que sorriria? Ali era o inferno; a morte envolvia o jovem neto, tomava seu corpo aos poucos com o que nós, mortais, chamamos de vírus. De repente vozes. O jovem, dominado por horror, encolheu-se ao chão e por entre as mechas seu cabelo negro jogado ao rosto, viu as criaturas demoníacas a encará-lo, dizendo “niguém mandou usar drogas”, “se tivesse ouvido sua avó”, “Aids? É merecido, seu drogado! Tá aí seu prêmio por...”. “Chega!”, gritou o garoto. Sentia-se cansado. Cansado pela fadiga gerada pela doença, diagnosticada há alguns meses e, principalmente, cansado de sua solidão. Arrependera-se de usar drogas, mas o vício era mais forte que ele e mais forte ainda era o preconceito vivido após contrair Aids. Pagava seus pecados através da doença e suportando os olhares alheios a condená-lo, a contemplar sua desgraça como merecida. E não suportando toda a condenação, recorria à seringa novamente. “Cadê a seringa?” Encontrando-a, injetou novamente a droga. Em sua circulação, condenação e morte corriam juntas. Agora sim. O mundo já não era tão obscuro, a cabeça não pesava, o coração não se remoía. Vovó sorria. Ele sorria. Os demônios transformavam-se em borboletas multicoloridas e anjos, muito brilhantes. “Será que vieram me buscar?” Apesar de todos o condenarem, queria ir para o céu. E por que não iria? É tradição a humanidade atribuir ao doente a culpa de seus males, fazer o inferno aqui e agora, além de garanti-lo para o amanhã, após a morte. Mas e Deus? Seria Ele assim tão mau? Incompreensível? Claro não! Até lhe enviara anjosl Com certeza o Senhor, criador dos céus e da terra, teria piedade. Teria de ter! Afinal, tirara-lhe os pais, desolara-o e o fizera infeliz. Merecia um céu, enfim. O céu ... Voltou-se novamente à janela, a qual enquadrava o paraíso ali, tão perto. Lembrou-se da namorada, a quem amava tanto. Ela o deixara após saber da doença. Era uma moça tão linda; olhos escuros, lábios grossos. E gostava da lua. Quando fosse para o céu, daria um jeito de lhe enviar a lua numa caixinha de presentes. Quem sabe assim voltasse para ele, quisesse ir para o céu também. Daí poderia até conhecer seus pais! Ah, como eram bons seus pais. Amava-os tanto, tanto. Enfim, depois de tanto tempo, iria os rever. Debruçou-se novamente sobre a janela. Aquele céu prometia-lhe tantas coisas, tanta felicidade, e até estrelas. Inclinou o corpo à frente. E lá estariam seus pais e até Deus, os quais não o condenariam, o deixariam paz. As mãos deslizaram. Só que dessa vez não foi em falso. Ele foi atrás de seu céu, e seus anjos o seguiram. Era uma noite muito, muito serena.
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http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL857421-5604,00.html - acessado 18/06/09.
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