domingo, 15 de junho de 2014

Nada mais vale a pena?

Crônica
Profª Marina Niceia Cunha
Professora e Pedagoga

           Perdoe-me, poeta, do “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena,” Fernando Pessoa.
            Ensinei minha alma não se tornar pequena, e, acredito que, outras, se abraçaram a mim na mesma comunhão, sonhadoramente, nesse mundo controverso e conturbado.

            Caóticas são nossas incertezas, por que será? Por que nos decepcionamos na busca de sentidos para resolver nossas indagações e crenças?
Oscar Wilde afirma: “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”. Será que esse é o medo? Apenas existir?
 E viver, quantos conseguem - realmente?
Perco-me na angústia quando vejo as almas confabulando para a venda dos bens sagrados – os valores: o sonho, a dignidade, a verdade, a cidadania, a família, a educação, o amor.
 Nesses tempos tumultuados e de corrupção, despudoramento, malandragens, falcatruas, e tantos eteceteras, não se sabe mais se é a questão do “Ser ou não Ser, eis a questão”?(original em inglês: To be or not to be, that's the question), da peça teatral (A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca, de William Shakespeare). Shakespeare escreveu magistralmente sobre o poder e tragédias advindas das circunstâncias, sejamos ou não da realeza corrupta.
Certamente o que sei é pouco.  E esse pouco é muito porque sou capaz de enxergar a morte dos ideais - tragédia que nos assoberba dia a dia.  E nela vejo muitas vezes os sonhos de tantas pessoas mergulharem nas profundezas dos seres insanos, incapazes de destronar indubitavelmente os males e a gravidade que lhes ferra os sentidos.
Que pena! Será que nada mais vale a pena? Devemos nos submeter as asperezas daqueles privilegiados que extorquem a liberdade e produzem os delinquentes?
Recuso-me a acreditar que isto seja verdade em face da beleza que ainda mora no meu coração, nas crenças e aprendizagens, que sempre estiveram comigo. Luto com todas as fibras que arrebatam o mais profundo da minh’alma, do meu “Eu” - da minha solidão interior - que me deixa, às vezes, alheia, porque preciso entender o que não quero para mim no ambiente de aprendizagem em que estou inserida, e que me leva a questionar: Nada mais vale a pena, na escola? A escola é uma farsa: parece ser apenas um espaço de aprendizagem? De profissionais pouco comprometidos? De alunos que não querem aprender?
Debato-me contra tais constatações. Mas reconheço as dificuldades enfrentadas na escola. Ainda assim, ela é minha casa de desafio.  E acredito que venceremos o descrédito, a deseducação, o descaso, a incompetência que nos são atribuídas, com professores competentes que buscam na leitura e pesquisa soluções para resolver as dificuldades de aprendizagem e ambientação escolar – planejando as aulas, discutindo ações e aprendizagens com alunos e colegas das diferentes disciplinas.
E que tenham, além de conhecimentos de sua disciplina, metodologia e recursos didáticos, o bom senso para resolver situações pontuais que se apresentam diariamente na sala de aula. Acredito muito no trabalho de profissionais comprometidos com a causa da educação e que ofereçam subsídios para que os alunos realmente aprendam e se tornem pessoas autossuficientes em suas aprendizagens.
Além disso, creio ser necessário suplantar a postura profissional que reforça a lógica que nos transforma em mártires desvalidos e sofredores em vista das circunstâncias: sociais, filosóficas, financeiras, etc. E as dificuldades de muitos para ensinar para “um mundo melhor”, diante da perversão do que nos apresentam como suposta causa para ser defendida: “Pensar dá muito trabalho”. “Estudar, mais ainda” “Aprender sobre a realidade exige esforço e tempo, coisas mais raras no mundo moderno.” Rodrigo Constantino. Esquerda caviar, p. 49.
E, assim, após tantas reflexões, quando miro nos olhos dos adolescentes e dos jovens(rebeldes ou não) que olham para mim, ou, até daqueles que permanecem de olhos cabisbaixos para receber elogios, ou, quiçá, a reprimenda – penso que gostaria de ser muito maluca a ponto de gritar algumas verdades(não, apenas, para eles). Contudo, é comum as pessoas fugirem de suas responsabilidades porque a realidade é tão difusa que não é possível pagar o preço. Mas isto me custa horas de sono e de estudos para entender a sociedade e o país em que vivemos onde a alienação é constante em nome da democracia. Nela os alunos estão inseridos com seu olhar inconformado ou de desdém causando descrédito, polêmica e debate.  Outros, na frivolidade e arrogância, divertem-se na banalidade e pouco caso, sentindo-se menos responsáveis por seus próprios atos perante toda e qualquer regra que venha preservar os bons costumes e valores apregoados na sociedade das minorias. O importante é se sentir diferente. Embora poucos saibam o que isto significa.
  Há pouco espaço para a geração ”nem isto, nem aquilo” livrar-se do esnobismo e arrogância, e colocar-se frente a frente à realidade que os cerca assumindo compromissos.
Falta espaço para a escola compreender tal geração. Falta espaço principalmente para a própria geração se entender.
Publicada no Jornal de Beltrão,domingo, p.6. 15.06.24.



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