sexta-feira, 5 de março de 2010

Um pouco da minha história na escola


Profª Marina Niceia Cunha

Memórias

O Colégio Estadual de Marmeleiro É história e faz parte da história do Brasil, do Estado do Paraná e do Município de Marmeleiro a partir de 1970.
E se nossa escola aconteceu na história a partir dessa data, bom saber quais histórias marcantes aconteceram no ano de sua fundação.
Em 1970 a seleção brasileira conquista o tri no México – e todos entoavam "setenta milhões em ação, (...) salve Brasil do meu coração. De repente é aquela corrente pra frente, salve a seleção"!
Na educação, o livro Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire propõe uma pedagogia libertária "cada homem seja valorizado pelo que é, onde a liberdade do povo deve atender à perspectiva do oprimido e não do opressor, procura conscientizar e capacitar o povo para a transição da consciência ingênua a consciência crítica com base nas fundamentações lógicas do oprimido".
A partir das ideias de Paulo Freire, as políticas públicas passam a se preocupar, então, com o direito da Educação de Jovens e Adultos... (Nesse tempo por aqui, a alfabetização se fazia através do MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização). Contribuí com tal programa, alfabetizando pais de alunos e alunos fora da idade escolar sob a luz de lampiões, na pequena igreja, da fazenda Jaciretã, em Renascença-PR. Sem material didático, catava “sucata” para elaborá-los. Aliás, naquele tempo o que mais se valorizava numa professora era a “criatividade” para demonstrar que sabia ensinar. Bom, fiz o máximo com o mínimo, decorando a igreja com cartazes de partes importantes dos conteúdos. Algo que me rendeu muita tristeza e decepção, pois algumas “beatas” da comunidade, concluíram que era uma ofensa a Deus. Rasgaram e jogaram fora “meus pobres materiais didáticos”. Recebi ordem de não colocar mais nada nas paredes da “Casa de Deus.” A partir daí... só escritas no caderno dos alunos. Na época, perpassava pelos 17 anos e nada me assustava. Entretanto, sempre havia uma mãe “beata” de olho nas minhas aulas. Nunca entendi o porquê de uns cartazes com o alfabeto e figuras de revistas mostrando imagens e palavras retiradas da Revista Manchete e Cruzeiro, Capricho, Ilusão, Bianca, Pato Donald me condenaram ao fogo do inferno. Mas dei “conta”, ensinando o be a ba, as lições da cartilha, a cópia, a caligrafia, o cantar da leitura e da tabuada. Confesso que muitas vezes, vi espanto nos olhos dos alunos.
Lembro-me que um deles, se aproximou da carteira que eu usava como mesa, e disse-me: “Professora, somos “alemon”, lá em casa, falamos “alemon”, é difícil eu aprender o português. Mas, eu gostava das aulas alegres com recortes e busca de palavras nas revistas para aprender novas palavras, ver as figuras nos quadrinhos, ler a história com meus colegas, desenhar as histórias... e colocar tudo direitinho na parede o nosso trabalho.
Até hoje me lembro desse aluno. Se desinteressou completamente das outras atividades propostas. E na minha inexperiência, não consegui ajudá-lo. Não fazia mais nada, apesar de todas as minhas insistências. Nesse tempo não havia acompanhamento didático – pedagógico. Eu estava sozinha. Um preconceito religioso (?) acabou com minha “sala de aula”. Entretanto, o ano letivo (1969) terminou. Voltei para Marmeleiro, frustrada.
(Fui parar na Fazenda Jaciretã(onde a plantação de pinus prosperava), Renascença, como professora porque terminei o Ginásio em 1968. Dois filhos estudar em Francisco Beltrão o 2º Grau, era impossível, financeiramente, na minha família. Tudo pago. Momento de decisão. Quem vai?

Apaixonada pelo Magistério, pois já havia tido alguma experiência lá em Pranchita, lancei-me de cabeça ao desafio de voltar à escola, indicada por uma colega que concluíra o ginásio comigo e trabalhava no escritório da Dambros...Precisa-se de professora na tal fazenda para turmas multisseriadas e aulas para Jovens e Adultos(MOBRAL). Á noite, cada aluno trazia um lampião. A pequena Igreja(sala de aula) ficava tomada pela fumaça.Eu cheirava a fumaça ao voltar para casa. Tomar banho, onde? No rio? Na bacia que já deixava com água antes de ir para a escola. Fiquei literalmente "morena" pelo sol e a fumaça encardidera.

E no final do ano, nenhum salário(diga-se de passagem que não recebi salário algum durante um ano).
A Prefeitura(Secretário) do município se nega pagar. Justificativa:a firma deveria tê-lo feito. Depois de muita conversa, a firma me paga alguns poucos dinheiros, os quais gastei comprando presentes para a família - felicíssima.1969 - fui lesada).
( Desde que vim morar em Marmeleiro, fiz os concursos para professora. Três se bem me lembro. Todos aprovada. Mas não podia assumir porque era menor). Era menor para assumir sala de aula, entretanto, para fazer o concurso, não. Vá entender. Lá em Pranchita era menor, mesmo assim, assumi sala de aula).

E vieram as promessas...

Em 1970 - meu desafio - Pocinho, comunidade de Marmeleiro, com a promessa do Secretário de Educação da época de que se “lá aguentasse” , pois, alunos estavam fora da idade escolar porque professores abandonavam todo ano as turmas – Classes Multisseriadas. Eles precisavam terminar as séries. Se isso ocorresse – teria eu, numa escola da cidade “um lugar ao sol”, isto é, uma sala de aula. “Aguentei” (suprimo aqui, parte da história)...

Em 1971 - professora da 2ª série primária no Instituto Nossa Senhora da Consolação (Colégio das Irmãs).
Em 1971, 03 de março, começamos o Normal Colegial (hoje Magistério) e mais o curso de Técnico em Contabilidade. Desisti dele, após alguns dias, pois lecionava no período da manhã, cursava o Normal Colegial à tarde; fazer Contabilidade à noite, tornou-se impossível. Escolhi dedicar-me ao Curso Normal Colegial e a minha sala de aula.
Mas para a história do Colégio Estadual de Marmeleiro, 1º de março de 1970, decreto 21.876 de 1º/12/1970 marca sua fundação. Para o aluno, o que marca é o início das aulas. E é por isso que ousei marcar essa data como aniversário em nome de todos os ex-alunos. Ousadia?!

“Anos Rebeldes”,(anos 70), fusca de tala larga e festival de MPB. E aqui, na Passarela do Sudoeste, a TV preto e branco dava sinal, a rádio (A Celinauta ) de Francisco Beltrão imperava e os campeonatos da LERBE movimentava as torcidas da região.
A SEM(Sociedade Esportiva Marmeleiro) reunia torcedores “fanáticos” no campo abaixo da antiga - Delegacia da Polícia Militar-, Av. Dambros e Piva e o Campo da antena, porque o time da época “ganhava todas”. Os torcedores se postavam atrás das traves torcendo pelo time na maior “gritaria”. Entremeio essas manifestações, havia a preocupação com os alunos que concluíam o Ginásio e tinham que se deslocar a Francisco Beltrão, ou Curitiba para cursarem o 2º Grau, inclusive, a Universidade. E é claro, a Universidade Federal do Paraná.
Quanto aos professores. A maioria lecionava com o 2º grau. Poucos lecionavam e cursavam a faculdade. Uns em Curitiba, outros em Guarapuava, Rio Grande do Sul, e finalmente, Palmas.

Nessa década também se discutia a importância do jovem “servir o exército”. Enquanto o pai acreditava que o filho ia se tornar mais homem nas fileiras, as mães choravam pela “perda” do filho querido que sofreriam nos quartéis as mais duras lições. Mas os moços queriam partir para esse tal mundo desconhecido e orgulhosos voltavam para casa mostrando o peito marcado por pincel de tinta preta sua adesão ao exército brasileiro.

Em 1970, era lhes oferecido os lugares para “servir”. Do que me lembro, todos os sonhadores queriam partir para a “distante” Brasília. Quantas mães choraram a distância do servir a Pátria, inclusive, aqui em Marmeleiro, entre elas, minha mãe.
E lá, seus meninos, em Brasília, “frequentavam” as aulas buscando cursar ou concluir uma série para não perder o ano quando voltassem para casa. Alguns, concluíram a 1ª série do Curso de Contabilidade, e não queriam reprovar na 2ª série, enquanto “serviam o exército”. O importante era não perder tempo nos estudos, mesmo servindo a Pátria...
E quando voltavam para casa, ostentava no peito uma camiseta onde podia se ler –“Mãe, a Pátria devolve seu filho”.
E retornavam às aulas. E buscaram novos destinos.Levando os diplomas expedidos pela escola.

No Colégio Estadual de Marmeleiro, lecionei, inicialmente, Religião(assim era chamada a disciplina naquele tempo). Recebia na época, o salário de professora primária(a Prefeitura Municipal, cedeu meu padrão para tais aulas).Isto sem contar que já algum tempo eu fazia esse trabalho voluntariamente. Mas passei lecionar no Ginásio Manoel Ribas(hoje Escola Telmo Octávio Muller) e no Colégio Estadual de Marmeleiro(por tal salário). Eram muitas turmas nos turnos: matutino, vespertino e noturno. Fui secretária durante uns meses. Mais tarde,lecionei Língua Portuguesa.
E daí para frente, são outras histórias.

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