segunda-feira, 1 de março de 2010

Quem foi adolescente aborrecente?

CRÔNICA
Marina Nicéia Cunha
Profª. de Língua Portuguesa

Digam-me as pessoas mais ou menos na casa dos 40 a 50(ou mais), - no seu tempo você foi um adolescente aborrecente? Se tiver 20 anos mais ou menos também serve a reflexão.
Os cinquentões e cinquentonas certamente dirão, mas que adolescência, que, que...!? “Nessa tal idade já estávamos na labuta, não havia tempo pra os tais momentos de “aborrecência”. O pai e a mãe davam logo um jeito arrumando uma forma de acalmar os hormônios e os chiliques. Havia água pra tirar do poço e encher o tanque pra mãe lavar roupas, ir cortar vassoura pra varrer o terreiro lá no “Campinho da Antena”; moer milho pra fazer quirela pros pintinhos e galinhas no pátio, arrancar e cortar mandioca pros porquinhos no chiqueiro. Pras meninas que terapia maravilhosa!Lavar louças e bombrilar as panelas que eram penduradas ora no paneleiro de parede, ora no paneleiro de escadinha decorado com toalhinhas de crochê e bordados”. Será que resta por aí, algum desses paneleiros, ainda?
Quem diria! Tarefas domésticas era terapia em nosso adolescer. Ninguém nunca nos aconselhou no tempo da “curvatura da vara”, psicólogo, psiquiatra ou coisa que o valha para resolver “problemas” na adolescência. Afinal, tais profissionais moravam em nossa casa sem nada entender de Freud e seus adeptos.
E os adolescentes, estigmatizados de “aborrecentes”, hoje, eta palavrinha feia!, quando insistiam em suas “crises”, havia um remédio mais drástico. Buscar ele mesmo na casa da vizinha uma varinha de marmelo, cujos pais a preparavam frente aos possíveis infratores, lentamente..., passando-lhe óleo de cozinha, rapidamente no fogo e depois a penduravam numa das paredes da cozinha bem a vista de todos. Quebrou promessa, a varinha comia solta nas pernas dos infratores. Ai, como doía!(assim diziam os peraltas). Eu nunca a experimentei, mas a consumi muitas vezes para longe das vistas de meus pais para que ela não entrasse em cena lá em casa nos meninos que teimavam em fugir e ir nadar no Rio Marmeleiro, algo sempre denunciado pelas comadres olhudas que viam tudo, inclusive, a garotada doidivanas nadando nus, para não molhar a roupa e se denunciar em casa.
E todos entendiam a princípio a adversa mensagem. Nunca um pai ou mãe afirmou: - “Não sei o que fazer com meu filho (a)”. “Chame o Conselho Tutelar (naquele tempo, a Polícia)”. A varinha comia solta nas pernas dos pobres garotos de calças curtas e para completar, ir à missa confessar esses e outros pecadinhos, nada de vestir a roupa domingueira, nada de cinema. Havia castigo pior do ficar sem ir a matiné de domingo no Cine Norodi? Não assistir ao filme de Tarzan ou de farwest? Bater os pés no chão ao som do tropel de cavalos, gritos de índios e tiros dos bandidos e mocinhos. Naquele tempo ainda não se ouvia falar de violência nos filmes. Os gritos do Tarzan voando de galho em galho, índio matando e sendo morto pelos mocinhos que manejavam habilmente o revólver e carabinas, a chegada da cavalaria americana para salvar o FORT, era motivo de diversão e gritaria no cinema... Subentenda-se que não havia as tecnologias que as crianças e adolescentes têm atualmente. O cinema tornara-se a mais saudável diversão da criançada e adultos dos idos de não tão antigamente.
Deixando de lado as reminiscências, apesar de tudo, pais não foram acusados de omissos. Pais e filhos tinham seus problemas resolvidos na família. Havia hora e tempo pra tudo. Regras e valores a serem cumpridos e respeitados. Isso era castigo? Maldade? Tudo depende dos conceitos de vida, da educação que recebemos e de nossa visão de mundo.
Em tal época, crianças e adolescentes tinham compromisso de estudar e estudar porque o governo não mandava nada para as escolas; tudo saía do bolso dos pais que exigiam aprovação nos estudos. Pobres, como muitos hoje, batalhavam para dar “estudo” aos filhos porque acreditavam que este lhes daria uma vida melhor. Era compromisso deles com a futura profissão do filho. Se houve pais que não deixaram os filhos estudarem quando eu era adolescente, não me lembro, lembro-me sim, das exigências da família quanto a isso. Também não me lembro de tantos filhos em idade “aborrecente”, tantos sem perspectiva, tantos jogando a vida fora e vivendo apenas o momento”conforme eles mesmos afirmam.
Os tempos eram outros, é claro. Porém, será que algumas lições do passado não precisam ser retomadas? Que tipo de “varinha de marmelo” os pais poderiam usar hoje? Naturalmente, não sou favorável à violência física. O que fazer para que os adolescentes não se tornem tão “aborrecentes” a ponto de serem execrados da sociedade? Acredito ser uma tarefa árdua para pais e educadores no presente momento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário